O Paraná vive uma das maiores crises hídricas de sua história, mas essa realidade já foi vista em outros momentos em pontos variados do Brasil e do globo.
Já presenciamos a crise hídrica de 2014 a 2016 na região Sudeste do Brasil. Em 2018, depois de mais de 5 anos com níveis de chuva abaixo da média, o Nordeste tinha apenas 17% de suas reservas de água disponíveis.
Nesse mesmo ano, mais de 16% das cidades brasileiras vivenciaram o drama de uma crise hídrica, segundo informação compartilhada pelo então ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho durante o 8º Fórum Mundial da Água.
Apesar de a água ser um recurso natural renovável, sua capacidade de renovação está abaixo dos níveis de consumo atuais.
Mundialmente, cerca de 70% do consumo de água é destinado à produção agrícola. Daí nasce a emblemática (e justificável) revolta do movimento vegano. Além de ser o setor com maior consumo, a agropecuária também é o com maior taxa de desperdício, cerca de 50%.
Quando falamos em desperdício, o problema tem vários algozes. O desperdício domiciliar também apresenta índices alarmantes. Em média, metade de toda água destinada ao consumo residencial é desperdiçada, segundo Albano Araújo, coordenador da The Nature Conservancy, organização internacional sem fins lucrativos líder na conservação da biodiversidade e do meio ambiente.
Em resumo, o problema do desperdício de água é análogo ao desperdício de alimentos: há água suficiente para todos, mas a má distribuição e o desperdício são os grandes vilões do acesso universal à água.
Para assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água para todes, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, muito mais que economizar água em tempos de crise, é essencial rever nossos hábitos de consumo e responsabilidade social.
É urgente que tenhamos consciência da nossa responsabilidade em conhecer os meandros da questão, cobrar as autoridades responsáveis, manter o engajamento quanto às políticas públicas locais, regionais e globais e fiscalizar incessantemente a viabilização de todas políticas conquistadas.
Mas de nada adianta garantir o acesso à água e manter os níveis de consumo e desperdício em alta. É preciso agir nas duas frentes em concomitância!
E o desperdício de água vai muito além dos minutos de banho, da água corrente na limpeza do carro e da calçada ou dos escapes de encanamentos que precisam de manutenção. O consumo desse recurso natural está implícito em todos os outros bens que consumimos ao longo da vida.
Já parou para pensar que a produção alimentícia e industrial depende da presença da água? Não? Então veja alguns números:
Água Virtual é o termo que se refere ao volume de água consumido durante a produção ou preparo de um bem de consumo. A palavra virtual representa justamente a não percepção do consumo de água na produção desses itens tão cotidianos.
Isso significa que, ao inutilizar uma folha de papel com espaços disponíveis, consumir as excessivas embalagens plásticas dos produtos do nosso dia-a-dia, desperdiçar alimentos próprios para consumo e muitas outras ações que parecem tão inofensivas, estamos também desperdiçando água.
Se quisermos acabar com o incômodo de a cada tantos anos lidar com o racionamento do abastecimento de água e gozarmos o pleno acesso a esse item estritamente essencial para a manutenção da vida humana, é urgente que repensemos todos os nossos hábitos.
Uma vida sustentável não tem como objetivo salvar o planeta, mas sim a espécie humana.
Se ter água nas torneiras dia sim, dia não já é um desafio e tanto, o que podemos esperar se mantivermos o consumo desenfreado desse bem tão precioso?
https://veja.abril.com.br/videos/em-pauta/a-crise-hidrica-no-nordeste/
https://www.blogs.unicamp.br/geofagos/2009/05/30/agua_recurso_renovavel_ou_nao/